Desconfio que seja tênue a linha que separa uma
apresentação duma confissão. Da primeira espera-se o enaltecimento, e da
segunda, a verdade. Acontece que sem verdade não há apresentação que legitime
algum enaltecer. Não posso menos, então, do que ser honesta.
Ao modo de quem proseia, lhes conto Antonio
Miotto.
Fé minino, amigo, arteiro. De primeiro, dele só
sabia os registros fotográficos que fazia (e já admirava), fotopoemas
per-ambulantes nos saraus de SP – e, vez-quando, até nos esbarrávamos em alguns
deles. Da retina lírica, um nada, até então.
Até então.
Me ocorreu que a gente pode circular uma vida
em consonância com outras gentes, em ambientes idens, sem sabê-las. Talvez que
falte aquele esbarrar que não é só o “ops, desculpa” do cotidiano, mas aquele
que finda por virar a boa desculpa dos inícios. Pois. Mediados pela poesia – a
culpada pela colisão – foi numa trombada com esse
poeta-ciclista-fotógrafo-professor-ativista (ufa!) que passamos a nos saber: o
acidente foi geográfico, palavra unindo gente feito istmo. Pelo brincar, pelo
brigar e pelo ouvir sincero, Toni é dessas pessoas bonitas, que não passam sem
ficar.
Quanto a seus escritos, o Miotto traz essa
energia que tira de vir e ver a cidade. Entrementes, transborda em flashes
poéticos as todas possibilidades dos encontros – entre frentes e gentes de
luta, ergue o punho izquierdo e reconhece os seus.
Seus poemas são fotogramas de um filme chamado
metrópole; seu eu-lírico-personagem persegue São Paulo sobre uma bike com
ventos na cara e nos bolsos, memórias na bolsa, vontades infinitas de novas
bagagens e uma Bella tatuada na vida.
Microrroteiros concisos que não são menos que poesia da urgência, grito
que só quem é capaz de fotografar nosso tempo com calma desmedida consegue
captar.
O lado que bate o coração tem voz.
Escuta:
Michele
Santos
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