Algumas
bandas conquistam ouvintes pela formal beleza, quando o primeiro contato com a
música é revelado por acordes límpidos, vozes doces, arranjos rebuscados.
Outras pela estranheza, beleza imbuída em máscara, enigma, mistério – quando
assim, ruído, dissonância, rouquidão –, e há, ainda, quem conquiste pela
insistência.
A banda Os Invalvuláveis anda me conquistando pela mistura de
ambas as coisas.
Você ri demais, Lygia. Advertia Clarice Lispector, num encontro internacional de escritores. Ninguém leva a sério um escritor que vive sorrindo. E na música, levamos a sério as bandas que gargalham, por via da ironia, os seus versos e sons quentes de escárnio e deboche? Raul Seixas, Mutantes, Tom Zé, Blitz, Titãs, Ultraje a Rigor, Júpiter Maçã e A caravana do delírio, de uma forma ou de outra, passearam esteticamente pela linha tênue que é a canção – seja mais experimental, ou acentuadamente pop – que flerta com o humor: rock é diversão, sabemos.
Às vezes, é muito mais na canção taxada de ‘engraçadinha’ que se dá uma
reflexão mais profunda sobre as relações entre arte e sociedade.
É preciso educar o ouvido à ironia, à música que não transmite uma ‘mensagem direta’, mas reflete em seus sons e versos, através de experimentos, uma forma rica e inovadora de criação musical. É isso, que ainda em início, em processo de maturação, fazem os músicos Duda (guitarra e vocal), Raphael (baixo) e Marcelo (bateria).
Com dois EPs lançados, sendo o último, Os Invalvuláveis no
Sanatório do Dr. Francisco, é possível colocá-los no meio da canção que dialoga
com uma geração de bandas que fizeram, e continuam fazendo, pílulas contra o
tédio, a favor da música que pede um ouvir além. Sem receios do riso, Clarice.
Sem receios.
(Júlio Rennó. Blog Outros Críticos)
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